domingo, 13 de dezembro de 2015

A identidade da cor e o charme do funk...

Sexta, dia 11, a tarde estive no Salão de Atos da UFRGS para assistir a peca "Qual e diferença entre o Charme e o Funk?", a peça esteve em temporada em vários locais da cidade durante o ano de 2015 e que fez parte da Mostra de Teatro Pesquisa e Extensão (TPE) do DAD-UFRGS, mas sempre havia uma coisa ou outra e nunca ia assistir...  exatamente no dia da entrega do Premio Açorianos de Teatro em que esta peça estava indicada em 5 categorias, foi finalmente o dia!

Minha primeira surpresa foi chegar a reitoria 45 minutos antes do horário de inicio do espetáculo já havia uma fila considerável de pessoas e até as portas se abrirem o numero só aumentou... pois sim, em uma sexta-feira as 14:30 a apresentação do espetáculo teatral "Qual a Diferença entre o Charme e o Funk? lotou o Salão de Atos... mesmo sendo uma apresentação gratuita este é um feito dificil de acontecer em, digamos, horário nobre, muito mais ainda, no meio da tarde em um dia de semana...

No saguão da reitoria mais uma surpresa, fomos recepcionados com uma performance das atrizes Silvana e Kyky que, enquanto uma  oferecia vinho e pão aos que se aproximavam a outra fazia benzeduras com ervas.

Depois de todos devidamente acomodados e de algumas palavras do diretor a peça tem inicio e já a primeira cena impressiona e arrepia pois realmente nos remete a ancestralidade africana. O texto é uma construção coletiva baseada nas memorias, vivencias e histórias contatadas e compiladas pelos próprios atores, encaixadas em um mosaico de verdades secretas, com relação a racismo, pobreza, identidade de gênero que gritam ao nosso redor e que a maioria das pessoas fingem não ouvir...

Não interessa a cor da pela de quem estava no palco ou na plateia, todos nos identificamos com o que assistimos...o Brasil é um pais propositalmente mestiço, a ideia inicial dentro de politicas publicas em  ser tolerantes, aceitar e inclusive promover esta mescla de raças tinha o intuito de branquear o Brasil no entanto, quando a mistura passa a fazer o processo inverso, quando começa a "escurecer" familiais este processo de "mestiçagem" já não é tão bem visto e isso coloca em evidencia nosso racismo... Hoje vivemos um período estranho na história do pais, passamos por um evidente retrocesso com o risco de perda de conquistas importantes adquiridas com tanto sacrifício e luta não só com relação ao movimento negro, mas também as questões femininas, de gênero, religiosas... parece que uma minoria  (poque sim, são minoria) tem medo de tudo que perece diferente e através da conqui$ta do poder politico querem tratar de exterminar tudo que incomoda suas mentes pequenas, essa minoria tem medo do que não compreende. 

  
Não acredito que leis mudem alguma coisa de fato, apenas inibem alguns tipos de manifestações mas o preconceito a rejeição permanecem e podem, inclusive ficar ainda mais fortes, mesmo que latente, o importante mesmo é trabalhar as causas de todo e qualquer tipo de preconceito... que realmente as pessoas se vejam como seres humanos...como iguais...Utopia? Talvez... mas ainda prefiro sonhar e colocar meu grãozinho de areia para transformar essa utopia em realidade do que simplesmente desacreditar...
 
Mas voltando ao teatro... pois bem, quando os atores Bruno Cardoso, Bruno Fernandes, Camila Falcão, KyKy Rodrigues, Laura Lima e Silvana Rodrigues dirigidos por Thiago Pirajira, saíram do palco, depois de uma pequena conversa que aconteceu com eles e alguns convidados após a peça, voltei para casa e passei por momentos de grande reflexão. Hoje escrevo este texto, então... que mais posso dizer... Só posso parabenizar o trabalho grupo de atores e seu diretor pois cumpriram com seu papel de mexer com conceitos e causar uma reflexão ( pelo menos em mim - acredito não ter sido a unica)... Para aqueles que ainda não assistiram a peça só digo que fiquem atentos e assim que entrem em cartaz novamente estejam lá, não percam esta oportunidade...eu já assisti mas posso garantir que se houver novas apresentações, vou ir...

 

Nota: Dos cinco Açorianos que a peça concorria conquistou o Premio de Melhor Trilha, que por sinal é belíssima, muito bem escolhida e realizada ao vivo.

 





  


 



  

















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